sexta-feira, 23 de julho de 2010

'O lamento da Libélula' - Primeiro pergaminho.

Não há um coração pulsante, espalhando vida em meu peito. Toca. Sente? É fundo, é vázio. Veja a cicatriz grosseira maculando a palidez de minha pele. Não há um coração que possa sentir...
Então como posso estar a me lamentar, sangrando palavras em um velho pergaminho? Que parte de um ser vivente pode sentir amor ou tristeza se não o coração
Um ser vivente... ?
Como posso estar viva se não possuo um coração? O que eu me tornei?! O sangue de jovens rapazes sacia a sede que arde em meu estomago, mas não sou eu uma asraelita, uma Renascida. A magia flue através de mim, como flue em sábias bruxas, porém, não sou bruxa. Eu pertenço a esta floresta que me acolhe, mas mesmo aqui eu não encontro algo para adequar-se ao que sou. O sol não me afeta, não põe fim à minha triste existência. Não há lenda que ensine a destruir-me. Como interromper isto que custo a chamar de vida?
Eu não findo. Não tenho o ciclo perfeito que rege todas as maravilhas vivas: nascer, crescer, reproduzir, envelhecer, morrer. Quem mais além de mim é assim? Nada doi mais do que a dor da solidão. Da existência continua sem descanço e reencarnação. Sem respostas. Sem amor.
O amor...
O amor tornou-me o que sou hoje. Algo que prolonga sua permanência neste plano sem ter escolha. Tantos morreram pela mão que segura a pena e desliza a tinta em palavras que mal sabe se chegaram a alguém. O que sou eu, que sinto a dor de um anorme vazio no peito, a dor de não possuir um coração, e não padeço por isto?
A teia criada por eu mesma enroscou-se em meus membros, enrolou-se em meu pescoço e estrangula-me. E cada vez mais, as almas de inocêntes ferem-se para sempre pelo meu egoísmo. O som melancolico de mil vozes a chorar e clamar misericórdia é música para mim. E esse som vem de todas as almas aprisionadas em minha teia, perdidas na floresta, lamentando a dor pela perda de seus corações.
Ah, e eu vejo outro viajante... Veja, cabelos negros em lindas ondas tais como os do Renascido a quem amei. Eu o desejo. Minha libélula, meu animalzinho azul brilhante voou e voa até ele. Outro infeliz. Mas por que não? Este pode servir, este coração... Eu apenas preciso manipulá-lo ainda mais que aos outros, fazer com que sinta mais amor, mais paixão, mais desespero por mim. O pontinho azul sumiu entre as árvores. Cascos de cavalo aproximam-se de minha torre. Hora de recomeçar novamente.
Meu teatro macabro inicia seu igual e próximo ato. Igual ao anterior, igual ao próximo. Continuo, infindável.

3 comentários:

  1. ain , >.< essa segunda parte me deixou todo confuso aoheaoheohae ♥

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  2. ....a cada parte desse conto uma nova emoção.
    um conto recheado de palavras fortes que provoca diversos sentimentos e isso da muito prazer na leitura.

    Eu via Ofélia um ser rude, seca e vazia. Nessa parte do conto ela me passou um ser que mesmo sem coração tem sentimentos (pouco mais tem kk) mais continua egoista pensando somente em si própria.

    Isso me deixa mais curioso para ler o próximo conto...

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